quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Pioneiro Stanislau Groch é homenageado pela vereadora Eni Scandolara com nome de rua


Realizada na última terça-feira (29), a 37ª sessão ordinária do Poder Legislativo foi marcada pela aprovação de projetos de lei visando à denominação de ruas de Erechim. Uma destas proposições, de autoria da vereadora Eni Scandolara (Progressistas), define a travessa da Rua Firmino Ricardi, situada no Bairro Três Vendas, como “Rua Stanislau Groch – Pioneiro”. Os familiares acompanharam a homenagem no plenário da Câmara Municipal.
Sobre o homenageado – Stanislau Groch nasceu em 28 de outubro de 1919, em Marynka Polska, na Polônia. Ainda criança, veio para Erechim com sua família. Sempre prestativo desde pequeno, Stácio, como era conhecido, trabalhou em diferentes serviços ao longo dos anos, firmando-se no ramo de mecânica de automóveis, chegando a ter seu próprio empreendimento na área, a Mecanauto, juntamente com o irmão Mário e o cunhado Salim. “Stácio dedicou-se inteiramente ao trabalho, à família, e ao mister de transmitir seus conhecimentos. Por ter desbravado o interior de Rio Grande do Sul e pela larga contribuição às comunidades por onde passou, prestamos esse reconhecimento”, afirma Eni.
Stanislau Groch faleceu em setembro de 2012, aos 93 anos.

Histórico

Nascido em 28 de outubro de 1919, em Marynka Polska, Distrito de Przemysl, Polônia, Stanislau Groch, mais conhecido como Stácio, emigrou com sua família embarcando no navio Dulius, viajando 27 dias rumo ao desconhecido, com muita esperança, buscando pão, paz e liberdade. Chegaram: o pai Nicolau, mãe Maria e os irmãos Joana, Mário e Sofia, ao Rio de janeiro em 1929 e, depois, em Boa Vista do Erechim.
No mesmo navio vieram 26 famílias polonesas, que se destinavam ao Espírito Santo, conforme o Agente de Imigração que estivera em Marynka Polska oferecendo facilidades para possuir terra no Brasil. Durante a quarentena, na Ilha das Flores, seu pai, um amigo e ele estiveram no Consulado Polonês, onde uma pessoa desaconselhou o Espírito Santo por causa do clima, indicando que seria melhor o Sul do Brasil. Logo buscaram o Rio Grande do Sul, chegando à Boa Vista do Erechim, pelo Trem Noturno vindo de Porto Alegre, o caminho que todos percorriam.
Como todos imigrantes, ficaram os primeiros dias no alojamento que os recebia. Logo passaram a residir nas proximidades da Estação Ferroviária, onde permaneceram toda vida. Hoje Travessa Nicolau Groch, número 489. Neste endereço nasceram os irmãos brasileiros: Helena, Adolfo e Wanda, os quais ajudou a criar, pois seu pai falecera muito cedo, em 12 de junho de 1959. Naturalizou-se brasileiro em 16 de dezembro de 1953, por Decreto do Presidente Getúlio Vargas.
Desde criança trabalhou em diferentes serviços, do que sempre se orgulhou: colocar alças em urnas funerárias, ajudar na fabricação de barricas (tonoaria), lavar pratos em hotel, recolocar os paus do bolão. Mais tarde passou a auxiliar seu pai, que já possuía duas carroças, no descarregamento e transporte de tijolos provenientes de Passo Fundo, via férrea (quase sempre durante a noite), destinados à construção de alguns ícones da cidade que então surgia: Hospital Santa Terezinha, Hospital de Caridade, Igreja São José, Prefeitura Municipal e frigoríficos.
Stácio sempre foi companheiro do pai nos diferentes trabalhos que apareciam, às vezes acompanhando seus pais nas atividades da Sociedade Nicolau Copérnico, fundada em 12 de abril de 1931, hoje Sociedade Instrutiva e Recreativa Rui Barbosa. Seus progenitores participaram da fundação da mesma, e sua mãe compunha o grupo de senhoras da Ala Feminina.
Imigrantes de diferentes países aportavam em Boa Vista do Erechim. Entre eles, duas famílias da Tchecoslováquia: os Palasek – um mecânico e outro contador. Deram emprego ao menino de dez anos. Assim pôs-se a trabalhar. Encantou-o a ideia de empregar-se na oficina de carros. Havia pouco movimento: apenas sete carros na cidade. 
Conforme Neusa Cidade Garcez, na obra Colonização e Imigração em Erechim, A Saga de Famílias Polonesas – 1900-1950, relatada por Stácio: “haviam somente sete carros na cidade: um Fiat 520 – pertencente ao Sr. Morosini; um Fiat dos Lorenzoni; “um Carro de Praça” – Ford 1924, de Willy Braus, outro “Carro de Praça” de Rodolf Thill e um carro modelo 1930 dos Malinowski. Mais tarde chegou o carro da Comissão de Terras: um Ford 1929. Ao final de 1930 já circulavam pela cidade uns trinta automóveis.” Já estava funcionando a Concessionária Ford, dos Massignan.
Aos dezesseis anos passou a trabalhar com Alfredo Tulke, um imigrante alemão, mecânico muito competente. Um ano depois, quando o patrão se acidentou, passou a gerir os serviços, considerado o funcionário de maior confiança dele. Recebia cinquenta mil réis por mês. Continuava a fazer biscates nos finais de semana e, à noite, instalava motores e dínamos para gerar energia elétrica em propriedades particulares. Utilizava o motociclo marca Vitória, um dos primeiros a aparecer nesta região. Não gostava de bailes, só de automóveis, de caça, pesca e também de namorar. Casou-se aos 24 anos, em plena Segunda Guerra Mundial, em 1944, com a moça sírio-libanesa: Etelvina Zill. Tiveram três filhos: Nilton Miguel, Clóvis Roberto e Marco Antônio, que seguiram seus passos na vivência automobilística. Destes filhos, cinco netos e quatro netas, um bisneto e três bisnetas.
Sua vida profissional assim se distribui:
Primeiros trabalhos – tudo o que aparecia na cidade que se desenvolvia.
Polasek – iniciação mecânica
Thulke – ampliação do seu conhecimento mecânico
Sponchiado – onze anos de vivência de Concessionária Chevrolet
Mecanauto – empreendedorismo próprio com o irmão Mário e o cunhado Salim Zill em Erechim, chegando a ter, em Porto Alegre, a filiar Garagem São Paulo, com posto de combustível, estacionamento e serviço mecânico em geral. A Mecauto foi a primeira concessionária Mercedes, Dodge e Fargo da região.
Quando do encerramento das atividades, foi convidado para empresa Massignan (Concessionária Ford), gerir todo setor de assistência técnica da mesma onde permaneceu até o ano de 1962, quando empreendeu novamente, contando com o apoio do amigo Wladyslaw Krempínski, também imigrante Polonês aqui chegado em 1930, nascendo a Mecânica Alto Ipiranga, na Rua Soledade,  316, onde também residia a família. Em 1968, com a denominação de Mecânica Groch, transferiu-se a empresa para a Av. Sete de Setembro, 668, em modernas e novas instalações, atendendo a veículos de passeio – multimarcas. Em 1976, conquistou a nomeação como Concessionária Fiat Automóveis para toda a Região Alto Uruguai. Iniciava-se uma nova etapa participando do mercado nacional, agora como Groch Veículos Ltda. Nesta última etapa, a empresa realizou inúmeras ações sociais e educativas junto a Escolas de Getúlio Vargas e Sananduva, onde a empresa mantinha pontos de assistência. Para aprimorar a formação técnico-mecânica nos Cursos de Mecânica de Automóveis do SENAI doou ao mesmo, em parceria com a Montadora, componentes mecânicos e um automóvel Tempra, no ano do seu lançamento, a época o mais moderno veículo do país. Igualmente promovia treinamentos especiais para mecânicos da região, dentro da evolução tecnológica que avançava na produção de veículos nacionais.
Permaneceu ativo na empresa até 1997/1998 quando, gradativamente, passou a se dedicar à criação de pássaros e de pequenos animais, ao cultivo de frutas e hortaliças, numa chácara no Bairro Três Vendas, o que o levou a um novo círculo de amizades, e interesses totalmente diferentes de toda sua vida de trabalho desde criança. 
Durante todo o período de atividades participou de inúmeras competições esportivas como: pioneiras provas de automobilismo nesta cidade, quilômetros de arrancada e outras provas de resistência mecânica. Gostava de falar sobre estas aventuras, relembrar a convivência com pessoas e as disputas, o que fazia com emoção e saudades.
Suas memórias estão registradas em depoimentos no acervo do Arquivo Histórico Municipal Juarez Miguel Illa Font e da Sociedade Instrutiva e Recreativa Rui Barbosa. Pessoa de princípios e valores, Stácio dedicou-se inteiramente ao trabalho, à família e ao mister de transmitir seus conhecimentos e centenas de profissionais, que hoje continuam atuando no ramo automobilístico, com valores e responsabilidade. Stácio faleceu em 29 de setembro de 2012, com 93 anos de idade e 68 anos de vida conjugal, nesta cidade de Erechim, que um dia adotou como sua terra, e a honrou com muito trabalho, determinação e exemplo.
O seu Stácio foi um pioneiro, um desbravador, um lutador, deixa um legado a que a sociedade erechinense deve sua homenagem e gratidão. 

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